Os Deuses da nossa terra – Um pouco sobre alguns Deuses Tupi-Guaranis
Os Deuses da nossa terra – Um pouco sobre alguns Deuses Tupi-Guaranis
(Deusa Lua Jaci, arte
de Bianca Duarte)
“Abá o-ikó ‘y pupé
Taba suí ‘y pupé
Kunumim o-monhang r-apé
Kunumim o-monhang r-apé
Yby oby supé
Arara kûara-pe”
(1)
Taba suí ‘y pupé
Kunumim o-monhang r-apé
Kunumim o-monhang r-apé
Yby oby supé
Arara kûara-pe”
(1)
Saudações aos leitoras da Nona Direção! Desta vez estou trazendo um tema
que já merecia estar presente ha muito tempo: Os Deuses de nossa terra!
Inicialmente, quando pensamos nos povos indígenas, temos o habito
ignorante de pensar em um só povo. Note que digo “povo” e não “tribo”, e que
falo ‘”indígena” e não “índio”. Parece besteira, mas assim como o total
desconhecimento de toda a nossa sociedade para com os Povos indígenas, aqueles
cujo povo habita nesta terra antes de nossos ancestrais chegarem, essas palavras
possuem pesos bem diferentes. Deixei lá nas notas um excelente texto de Daniel
Munduruku sobre o tema e recomendo a leitura.
(2)
(2)
Existem muitas etnias indígenas e cada um possui suas próprias
tradições, Deuses, espíritos e tradições. Não existe um povo indígena apenas, e
sim, muitos. Como alguém que também está iniciando os estudos sobre os povos
indígenas, vejo a necessidade de deixar alguns desses conceitos expostos, visto
que é um elemento cultural extremamente rico e, como andarilhos desta terra
sagrada, nossa obrigação é a de respeitar e de tentar manter viva a cultura dos
Povos Indígenas e, a informação é o primeiro passo.
O termo Tupi é usado normalmente de forma genérica e era usado para
designar diversos povos que viviam no litoral brasileiro no século XVI,
existindo muitos povos que falam línguas da mesma família da língua Tupi, sendo
a mais famosa os Guaranis. Porém, vale lembrar que não são apenas um povo, mas
vários diferentes.
Irei descrever de forma básica alguns Deuses e colocarei uma Arte com a
qual me deparei nos últimos tempos, que por sua vez me trouxe encanto e mais
vontade de ler sobre o assunto. Colocarei também nas notas o espaço de onde
tirei tal Arte, chamado “Brasil Fantástico”.
(3)
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Jací – A Deusa
Lua
Jací é a Lua. Já li em algumas versões que ela é mostrada como
marido de Guarací, O Deus Sol, mas a mais famosa é como irmã gêmea de
Guaraci e esposa do Deus do Trovão, Tupã. Nas mesmas variações de suas
histórias, ha ainda que ela foi criada por Guarací, pois quando esse dormia, o
mundo ficava na escuridão. Em outra, talvez a mais famosa é que fora criada por
Tupã, para iluminar a noite e trazer suavidade e encanto para o mundo.
Jací, é a protetora das plantas, dos animais e dos amantes. É uma Deusa
amável e acredita-se que possui uma fantástica beleza, tendo feito o
próprio Tupã se apaixonar (ou Guarací, dependendo da versão).
Guaraci – O Deus Sol
Guarací é o Sol. Em algumas versões ele foi criado por Tupã e é o irmão
gêmeo de Jaci, a Lua. É um Deus muito querido e respeitado pela sua
importância. Guarací é visto como um doador da vida e é responsável por ser a
luz do mundo. Juntamente com Jací, foram os primeiros Deuses criados por Tupã e
regem sobre todos os seres vivos. Em algumas versões, ele é visto como o
criador da vida. Existem lendas diferentes dependendo das fontes abordadas e
das tradições de alguns povos da língua Tupi.
Tupã – O Deus do Trovão
Tupã, o Deus do Trovão, talvez seja o Deus dos povos indígenas mais
conhecidos no país. Mesmo que as pessoas apenas conheçam seu nome, é uma prova
de que seu poder alcança toda nossa terra, assim como seus relâmpagos e
trovões.
Tupã é descrito como o Deus criador de todas as coisas. Ele criou os
homens a partir do barro e uma mistura de vários elementos da natureza e também
criou o primeiro gruo de Deuses. Em algumas lendas, Tupã transforma
mortais em entidades ou Deuses. Ele criou Rupave e Sypave, cujos nomes
significam “pai dos povos” e “mãe dos povos”, respectivamente.
Este Deus era descrito como justo e bom para com os homens, mas com temperamento agressivo. Também é visto como um grande guerreiro e o trovão seria tanto sua arma quanto a forma de se expressar, sendo sua ferramenta e parte de si mesmo.
Este Deus era descrito como justo e bom para com os homens, mas com temperamento agressivo. Também é visto como um grande guerreiro e o trovão seria tanto sua arma quanto a forma de se expressar, sendo sua ferramenta e parte de si mesmo.
Anhangá – O Deus do Submundo
Anhangá é o Deus do submundo e aquele que rege sobre os mortos. Ele
também é conhecido por castigar as más pessoas de forma cruel. Anhangá é visto
como um inimigo de Tupã e o único a rivalizar em poder, sendo um Deus poderoso.
Uma curiosidade é que Anhangá também é visto como um protetor da
floresta, podendo possuir várias formas, entre elas, a mais famosa seria a de
um veado com olhos flamejantes. Anhangá é descrito com pele pálida e olhos de
fogo. Diz a lenda que qualquer um que olhe em seus olhos é atingido pela
loucura. Anhangá castiga aqueles que matam fêmeas grávidas, normalmente com a
morte de um ente de sua família e costuma trazer a loucura a caçadores.
É visto como um Deus a ser temido pela sua natureza e domínios.
Caipora – O Protetor das matas
Os Caipora são criaturas meio homem e meio animal, vistas como uma
espécie de Deuses menores das matas.
Eles andam em bando e pregam peça em pessoas nas florestas. São capazes
de reproduzir qualquer som, humano ou animal, e usam isso para fazer as pessoas
se perderem na mata.
É dito que deve-se deixar algum presente para os Caipora assim que se
entra em uma floresta, como fumo, frutas ou flecha) para não ser vítima de suas
peças.
Em algumas regiões do Brasil, como em algumas cidades no interior de São
Paulo, usa-se “Caipora” para chamar alguém que está irritando ou tirando alguém
do sério, por ser atentado.
Xandoré – O Deus da Ira e do Ódio
Xandoré é descrito como o Deus da Ira e do Ódio e é aquele que motiva a
guerra entre as pessoas.
Ele é irmão do Deus Anhangá, Deus do submundo. Xandoré pode assumir a
forma de um falcão e foi enviado para matar Pirarucu (um indígena de coração
perverso que criticava os Deuses e cometia atos cruéis na terra), que mesmo
atingido mortalmente por Xandoré, se recusou a pedir perdão, então foi
transformado num peixe grande e escuro, desaparecendo no rio.
Xandoré era dito como um Deus que odiava os homens e levava a discórdia
para então haver guerra entre eles.
Ticê – Deusa da Maldade e da Inveja, a
Feiticeira sem medo
Ticê era uma poderosa feiticeira, muito temida pelo poder que tinha
devido aos segredos que conhecia. Ticê usou seus encantos para não ser atingida
pela loucura e morte que eram causados pelos olhos de Anhangá, o Deus do
submundo. Então ambos puderam olhar para os olhos um do outro e acabaram se
apaixonando. Anhangá então levou Ticê para reinar no submundo com ele,
tornando-a uma Deusa.
Ticê ainda é muito temida por ser uma poderosa feiticeira e ter domínio
sobre a maldade e a inveja.
Kianumaka-Manã – A Deusa Onça
Kianumaka-Manã é uma Deusa guerreira que possui a força das onças. Ela é
uma Deusa de liberdade, espírito-livre, e abençoa as batalhas dos guerreiros
indígenas.
Iara – A Deusa dos Lagos serenos
(4)
Iara é vista como uma sereia de beleza exuberante que atrai os homens e
pescadores para as águas. Quando se aproxima, ela vira sua canoa e o puxa para
baixo d’água, lhe afogando.
Ha algumas versões da lenda de Iara. Uma delas é que Iara era uma
indígena muito boa em caça e pesca, melhor do que seus irmãos, que decidiram
matá-la por inveja. Tupã, apiedando-se da moça, a transforma em uma bela
sereia, Deusa de águas doces. Outra versão é que Iara, sabendo do plano, mata
seus irmãos, mas é capturada por seu pai, que a joga no Rio Solimões em uma
noite de lua cheia, transformando-se numa sereia.
Existem muitos outros Deuses e muitos outros seres dentro da imensa
variedade dos Povos Indígenas. Esses são apenas alguns dos mais famosos. Tenho
a intenção de me aprofundar nos Deuses e espíritos de nossa história e de nossa
terra.
Haverá mais postagens envolvendo os Deuses dos Povos Indígenas, assim
como os seres, lendas e um pouco de suas histórias.
Como andarilhos, devemos honrar aquilo que está debaixo de nossos pés,
pois é isso que sustenta o nosso caminho.
“Xe pytuna un pupé
Xe ratãn un pupé
Xe pe’a um~e îepé
Xe r-enõî um~e îepé
Xe r-enõî um~e îepé”
(5)
Xe ratãn un pupé
Xe pe’a um~e îepé
Xe r-enõî um~e îepé
Xe r-enõî um~e îepé”
(5)
(Ticê e Anhangá)
Notas:
(1) Trecho da Música “Aruanãs” da banda
brasileira “Arandu Arakuaa”;
Tradução:
“Os indígenas moravam dentro do rio
Na aldeia dentro rio
O menino fez o caminho
O menino fez o caminho
Para a terra verde
Para o buraco das araras”;
Tradução:
“Os indígenas moravam dentro do rio
Na aldeia dentro rio
O menino fez o caminho
O menino fez o caminho
Para a terra verde
Para o buraco das araras”;
(2) Para mais informações sobre o peso
dessas palavras, ler o texto de Daniel Munduruku, publicado no site “Pindorama
história”, acessado dia 15/07/2016
https://pindoramahistoria.wordpress.com/2015/04/11/reflexoes-no-mes-de-abril-usando-a-palavra-certa-pra-doutor-nao-reclamar/
https://pindoramahistoria.wordpress.com/2015/04/11/reflexoes-no-mes-de-abril-usando-a-palavra-certa-pra-doutor-nao-reclamar/
(3) Brasil
Fantástico, das gêmeas Bianca Duarte e Natalie Duarte, acessado dia
15/07/2016;
(4) Todas as Artes e vários trechos
foram retirados do site Brasil Fantástico e da sua página do
Facebook de mesmo nome: Página Brasil Fantástico. Todos os direitos
autorais das imagens são das Gêmeas Bianca Duarte e Natalie Duarte;
(5) trecho da música “Moxy Peê Supé
Anhangá”, da banda “Arandu Arakuaa”.
Tradução:
Tradução:
“Dentro de minha noite escura
Com minha força macabra
Não me desterre tu
Não me chames pelo nome
Não me chames pelo nome“.
por Leonard Dewar
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